Até pelo menos meados de 2020, o Tatuapé teve, no encontro da rua Platina com a Visconde de Itaboraí, um Jardim de Chuva. 

Lembro-me que na época em que vi esse jardim fiquei feliz pelo bairro estar sendo parte de algo que já estava em evidência em bairros mais centrais da cidade e em outros países. 

Mas neste ano (2024), passei pelo local e vi que o jardim não existe mais. O que havia sido construído em uma pequena rotatória estava completamente abandonado, seco e com as aberturas das guias (feitas para direcionar a entrada da água) fechadas. Pelo histórico do google maps dá pra ver que está fechado desde 2021. 

O QUE É UM JARDIM DE CHUVA?

Um jardim de chuva é uma área verde projetada para capturar, filtrar e armazenar a água da chuva. E não somente a água que cai do céu, mas também aquela que escorre pelas ruas. 

Criado por Zephaniah Phiri Maseko, morador do Zimbábue, o jardim de chuva é uma técnica baseada na dinâmica da própria natureza que pode ajudar a minimizar o histórico problema dos alagamentos em São Paulo. 

A cidade se desenvolveu sobre e em torno de uma rede hidrológica de 5 mil km. Parte dela foi canalizada, porém segue ativa por baixo do asfalto. Quando chove, a água segue seu curso em busca do rio, mas, como a cidade é asfaltada, ela corre muito rápido e em volumes muito altos.

No Jardim de Chuva, a terra é preparada em diversas camadas de forma que fique altamente permeável para que a água se infiltre lentamente e fique armazenada por um tempo maior. Em comparação com um gramado convencional, ele permite que 30% mais água penetre no solo. 

Existem diversas formas de fazer jardins de chuva. O que havia no Tatuapé ocupava o espaço de uma rotatória. Foram feitas aberturas na guia para direcionar a água que escorre pela rua.

O publicitário e plantador de árvores Nik Sabey já construiu vários jardins de chuva pela cidade. Ele explica que, em São Paulo,  os jardins podem ajudar a amenizar outro problema muito comum, inclusive aqui no Tatuapé: a água que os prédios lançam nas ruas. 

“Isso acontece porque as construtoras cavam para fazer o subsolo, chegam ao lençol freático e a água acaba minando. Para não ter um alagamento, ela é bombeada para a rua. Em locais onde isso acontece, o jardim de chuva vai se beneficiar dessa água mesmo nos períodos de seca”.

A HISTÓRIA

A ideia de transformar os canteiros em espaços permeáveis e preparados para receber a água da chuva começou com Zephaniah Phiri Maseko, morador do Zimbábue. Ele precisava alimentar a família e não tinha dinheiro nem trabalho, apenas um terreno. 

Observando o caminho que a água fazia nas suas terras, ele criou um jeito de captá-la e aproveitá-la de forma inteligente para ter alimento o ano todo. Por toda sua terra Phiri fez com que a água da chuva descesse com menor velocidade, apenas com a ajuda da força da gravidade, e fosse absorvida pela vegetação. Assim, conseguiu plantar e colher para ter alimento o ano inteiro.

O permacultor americano Brad Lancaster foi conhecer de perto essa história e levou a ideia para Tucson, no deserto do Arizona. Ele começou a aplicar os conceitos na sua própria casa, onde a paisagem se modificou, as inundações que aconteciam na época das chuvas acabaram e houve uma economia de água usada na irrigação do jardim. O negócio inspirou os outros moradores do bairro, saiu detrás dos portões da casa de Brad e acabou até virando uma política pública. O bairro ficou mais verde, mais seguro (porque as pessoas saiam mais de casa), mais fresco e mais bonito.

Se os jardins captadores de água transformaram um bairro nos Estados Unidos, será que poderiam transformar o nosso bairro?

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